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RESSONÂNCIA ARMORIAL

 

Ariano Suassuna, Francisco Brennand, Gilvan Samico e Miguel dos Santos

 

Ressonância é um fenômeno que ocorre quando uma força é aplicada sobre um sistema com frequência igual, ou muito próxima da frequência fundamental desse sistema, ocasionando um aumento na amplitude de oscilação. A definição adequa-se com perfeição à concepção e aos desdobramentos do Movimento Armorial, criado em 1970, no Recife, PE, por Ariano Suassuna. Preocupado com a descaracterização da cultura brasileira, o dramaturgo reuniu em torno dele um grupo de artistas com as mesmas inquietações, propondo um olhar atento às raízes brasileiras: ibéricas, indígenas e africanas, refletidas nas tradicionais manifestações populares do Nordeste. A proposta ressoou de forma marcante nas obras de Gilvan Samico, Miguel dos Santos, Francisco Brennand, além do próprio Ariano, estimulando o imaginário e a prática de cada um deles.

 

Ariano dizia que as ideias armoriais precediam a criação do movimento, ressalva que Samico ilustra bem, pois, suas primeiras obras inspiradas no cordel datam de 1960. O virtuosismo técnico na arte da xilogravura, aliado ao imaginário das fantásticas histórias do Romanceiro Popular do Nordeste, apresentadas de forma hierática, quase sagrada, em “soberana simplicidade”, tornaram a obra de Samico a mais plena concretização das ideias armoriais - uma união perfeita de erudito e popular.

 

Miguel dos Santos participou da segunda exposição armorial e continua atuando até hoje. Incorporando vestígios do passado e referências a deuses ancestrais, seu trabalho, personalíssimo, envereda pelo realismo mágico, materializando assombros: esgares e olhares de animais fantásticos, seres informes prenhes de energia primitiva em movimentos furtivos. Imagens inquietantes vindas de sonhos - ou de pesadelos?

 

Francisco Brennand participou ativamente do Movimento Armorial, mas sempre recusou essa classificação, afirmando marotamente: “Eu não sou Armorial. Sou sexual!”. Artista plural, realizou desenhos, pinturas, tapeçarias e impressionantes esculturas em cerâmica, de grandes formatos, que evocam o mundo telúrico, sensual e provocador, caraterístico de toda a sua produção.

 

Na década de 1980 Suassuna criou dois álbuns de iluminogravuras: Dez Sonetos com Mote Alheio (1980) e Sonetos de Albano Cervonegro (1985). Cada um deles é um livro semiartesanal, contendo dez pranchas soltas. Iluminogravura, neologismo criado a partir da fusão das palavras iluminura e gravura, é uma escrita emblemática, uma espécie de autobiografia poética na qual o Ariano escritor interage profundamente com o Ariano artista plástico, mantendo a herança da xilogravura popular nordestina.

 

A reunião desses quatro artistas, na Galeria Base, evidencia a ressonância do Movimento Armorial, potencializando seu resultado mágico e contestador, que remete às raízes profundas de nosso país.

 

Denise Mattar

 

Abertura: 7 OUT 2023, sábado, às 12h

Período: 10 OUT  a 11 SET de 2023

 

G A L E R I A B A S E 

contato@galeriabase.com.br | (11) 3062-6230

Alameda Franca, 1030 | Jardim Paulista

São Paulo | SP

Terça a sexta-feira, das 11 às 19h

Sábado das 11 às 15h 

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