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GUILHERME GAFI

AGENTES CONCRETOS

A manipulação de materiais duros, como o ferro, aço, madeira e concreto, é compartilhada por artistas e outros trabalhadores. Em especial, aqueles responsáveis por construir os tetos sobre nossas cabeças, as paredes que guardam a tosquice da intimidade, o chão e os terminais de caminhos diários de todas as espécies vivas e não vivas. Somos rodeados por essas estruturas compostas desses materiais grosseiros. O gesto manual define tanto o trabalho de um pedreiro como o de um artista.

 

Fitas zebradas delimitam os processos das construções das obras. Algo ordinário na cidade. Obras que mediam mais ou menos nossas relações – do completo racional e calculado, como os viadutos, às gambiarras. Obras sem autoria. Ou, se atribuída, é na dimensão das superestruturas: o governo, as multinacionais, os bancos. Até chegar na leitura de um artista, como Guilherme Gafi. Dos cones e cavaletes apoiados no chão, retratados com minúcia em aquarela, ao degradê de azul limpo, como um portão de garagem de azul metálico sobre o ferro, há um elo com a construção da paisagem das ruas asfaltadas. Não seria diferente: sua origem é a mesma.

 

É uma paisagem em ruínas. Diferente da paisagem ligada ao horizonte preenchido de céu e campo. É organizada no caos: uma contradição desajeitada. Formada por pedaços assimétricos, são como falhas de execução. Eles tensionam a própria razão de existir, que é sua funcionalidade. De que serve a fita zebrada, afinal? Gafi percebe a falha, as sobras e aquilo que é inútil em seu objetivo, principalmente. Dos terrenos baldios, dos muros com entulho, em cantos destinados ao inútil acordados silenciosamente pela ação coletiva. E novamente, na inutilidade de uma obra de arte, Gafi os recolhe e manipula. Obras situadas aqui, sob os tetos, nas paredes e chão.

 

Boa parte dos materiais que Gafi usa vem da rua e é porque alguém os deixou lá. De mãos despersonalizadas; transformadas em fantasmas nas luvas e nas torções no ferro que poderiam ser fruto de uma queda ou de uma sobra de argamassa esquecida. Convido a uma lembrança melancólica dos gestos de outras mãos que manipularam os mesmos baldes e galões. Aqui e sempre o artista é atribuído como autor. Tem nome e sobrenome, um retrato profissional e um currículo. Permanecemos distinguindo quem é autor. Nas obras presentes nesta exposição há um rastro do anônimo, das outras mãos que manejaram os materiais encontrados nos caminhos de Guilherme Gafi. Um rastro notado na pintura da série "Agentes Concretos", iniciada em 2018. Em grande escala, uma cena de trabalho de um gari ou um varredor de vias públicas. Lembramos sua roupa, suas ferramentas, a paisagem ao seu redor, mas nunca seu rosto. Qual o seu rosto? Qual o seu nome?

Abertura: 3 MAI 2023, quarta-feira, às 18h30

Período: 3 MAI a 3 JUN de 2023

 

G A L E R I A B A S E 

contato@galeriabase.com.br | (11) 3062-6230

Alameda Franca, 1030 | Jardim Paulista

São Paulo | SP

Terça a sexta-feira, das 11 às 19h

Sábados das 11 às 15h 

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