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Na morada dos instantes suspensos

Na música, os instantes suspensos designam momentos em que a experiência temporal é interrompida ou dilatada — seja pela sustentação de notas e acordes, pela ressonância inacabada ou pela permanência do silêncio. Trata-se de uma condição liminar entre expectativa e repouso, que evidencia a escuta como experiência ativa, carregada de sentido. Essa experiência, embora sonora, encontra paralelos na vivência cotidiana: instantes que, por sua natureza transitória, tendem a se dissipar no próprio ato de sua aparição.

Habitar um instante é reconhecer sua transitoriedade. Sua peculiaridade de se esvair, antes mesmo de ser apreendido, parece tornar esse intuito um paradoxo. Seria mesmo possível erigir um abrigo para o efêmero? Um lugar onde o silêncio se converta em presença e convoque à contemplação?

Julia da Mota, Lúcia Glaz e Natália Guarçoni reúnem poéticas nas quais essas indagações se convertem em pintura. Trabalhos que propõem um espaço de acolhimento para aquilo que, por essência, é fugaz:  pausas que interrompem o fluxo do tempo, silêncios que se tornam matéria. São refúgios em que o transitório e o fugidio se convertem em permanência sensível.

As pinturas geométricas apresentadas, construídas majoritariamente em tons pastéis e acinzentados, instauram uma atmosfera de suspensão e delicadeza. Em sua aparente concisão, revelam uma gramática de linhas, planos e ritmos que se sucedem como respirações: nem bruscas, nem definitivas, mas em latência constante. Nelas, a geometria não é imposição rígida, mas um campo aberto em que as cores se diluem, as formas borram seus limites e os planos se deixam atravessar pelo tempo.

Guarçoni e da Mota compartilham uma intimidade singular com a arquitetura. Suas pesquisas dos limites entre a transparência e o rigor constroem paisagens erigidas em sutis camadas, que abrem fendas para o entendimento do que lhes é íntimo. Suas formas translúcidas tensionam a passagem entre o visível e o invisível, evocam metamorfoses naturais e insinuam portais de luz ou bruma.

As pinturas de Lúcia Glaz, por sua vez, inscrevem-se numa tradição que compreende a cor não como mero atributo físico, mas como experiência sensível em transformação. Sua pesquisa parte de um rigor construtivo, mas o transcende, acolhendo a dimensão subjetiva.

Tanto em Glaz, quanto em da Mota e Guarçoni, a cor não é superfície estável, mas fenômeno perceptivo que se expande e se contrai conforme o olhar se demora. Nesse contexto, linhas e planos não se afirmam como fronteiras, mas como passagens. Ritmos suaves instauram pausas prolongadas, e a geometria revela-se permeada pela delicadeza do efêmero. Cada trabalho configura-se como morada provisória do instante, onde cor e espaço se entrelaçam como matéria viva.

Na suspensão desses instantes, o olhar repousa em silêncio. Cada obra nos devolve a experiência de um tempo dilatado, nos convidando a demorar-se entre um gesto e outro, onde o rigor se dissolve em suavidade e a presença se transforma em permanência.

Texto crítico: Priscyla Gomes

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