top of page

 

g e n í a c o

O Sublime em Gilvan Samico, Emanoel Araujo e Mario Cravo Neto.

 

 “Ser Poeta é ser um geníaco, um filho assinalado das Musas” - frase de Ariano Suassuna, parte do livro “ O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”, marco inicial do movimento Armorial no Brasil. Suassuna idealizou tal movimento como forma de valorização da cultura nordestina, agregando artes visuais, música e literatura, a um tronco comum, no qual se encontravam as influências indígenas e aquelas das diásporas africanas e portuguesas na região. Uma forma peculiar de representar o país, seu povo e cultura, através da junção do erudito ao regional.

 

A citação acima é essencial para entender a exposição e as conexões que se estabelecem entre seus três artistas: Gilvan Samico, Mario Cravo Neto e Emanoel Araujo. Trata através de um neologismo Suassuniano, o Poeta ( ou o artista ) como um gênio, filho escolhido de um ser superior, aqui apresentado como “Musas”. A simbologia, o etéreo e a religiosidade portuguesa e africana, que permeiam o imaginário do povo brasileiro, encontram de uma maneira ou outra, lugar no discurso visual desses artistas.

 

Samico é o principal representante do movimento Armorial. Sua obra é fundamentada na Xilogravura, técnica essencial da produção nordestina, tendo o Cordel como principal referência. Entretanto, Samico eleva sua produção a um nível extremamente alto de refinamento e sofisticação formal. O seu detalhamento, plano discursivo compartimentado e cores, remetem as iluminuras medievais europeias, contudo apresentam todo o universo lírico de causos, lendas e mitos de sua região.

 

O mesmo refinamento e apuro técnico encontramos na obra de Mario Cravo Neto. Sua fotografia atinge ápice nas imagens em branco e preto, que retratam mais que a sua Bahia, questionam os poros mais sensíveis da formação antropológica da região. Revela com forte expressão autoral a presença negra, seus costumes e, principalmente, a religiosidade. Participa da exposição a premiada série “The Eternal Now”. Nela, o Candomblé é documentado através de imagens impregnadas de emoção, como as que sugerem o êxtase, o momento de epifania no contato entre o carnal e a divindade.

 

Emanuel Araújo tem em seu trabalho presença forte da gravura, em especial a Xilogravura, reflexo também da influência regionalista. Mas o elemento maior em sua produção, é a investigação da herança africana. O artista pesquisou durante toda sua carreira, a peculiar geometrização ancestral dos africanos e a tomou como partido primeiro de sua produção. Na exposição, são apresentadas três esculturas que surgem da matriz xilográfica e avançam à tridimensionalidade, revelando signos da cultura negra e sua relação com o Brasil.

 

Olhando para dentro, esses artistas alcançaram em suas carreiras grande projeção, tanto no Brasil quanto fora. Samico foi um dos destaques da última Bienal Paulista, foi premiado na Bienal de Veneza e tem obras no acervo do MoMA em NY; já Cravo Neto participou de cinco Bienais de São Paulo, também consta no acervo do MoMA, além da coleção Masp/Pirelli de Fotografia e do Stedelijk Museum em Amsterdã. Emanoel Araújo foi premiado na Bienal Gráfica de Florença e sua obra faz parte dos acervos do Museu de Arte da Bahia e do Masp, além de ser o fundador e curador do Museu Afro-Brasil em São Paulo.

 

Ao final, trata-se de uma exposição de arte contemporânea brasileira. Mas no sentido mais forte e restrito que essa definição possa ter. Uma exposição de três brasileiros que buscam suas raízes e se expressam para documenta-las, valoriza-las e por que não, as sublimar. Suassuna costumava falar em entrevistas sobre a internacionalização da nossa cultura. Valorizar esse tipo de produção artística, brasileira e autoral, é sem dúvida urgente e necessário.

                                         

                                                                                     

Paulo Azeco

Serviço:

“g e n í a c o”, com curadoria de Paulo Azeco
Abertura: dia 30 de setembro, sábado, das 15 às 18 horas
Período expositivo: até 04 de novembro de 2017

Galeria Base
Endereço: Alameda Franca, 1030 – Jardim Paulista | 
São Paulo, SP | CEP: 01422-002

Horários: de terça a sexta, das 11 às 19; e sábados das 11 às 15 horas

Telefones: (11) 3062-6230 |  98327-9775 e 98116-6261

contato@galeriabase.com.br

bottom of page